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Abertura cria alternativa para empresas em Cuba
Frases como “revolución o muerte” ou “sistema socialista es intocable” ainda podem ser lidas em muros, com letras desgastadas pelo tempo, mas são visíveis os sinais de abertura econômica em Cuba. Mais por necessidade do que por opção, o regime está sendo obrigado a aceitar a profissionalização na gestão das empresas em que está associado ao setor privado e a autorizar cubanos a abrir pequenos negócios. De abertura política, nem sinal.
A abertura econômica ainda é uma fenda, mas o governador Tarso Genro encerra hoje a visita a Havana convencido de que ela é inexorável:
– É uma questão de sobrevivência. Eles não têm outro caminho.
– Não se pode dizer que eles seguirão o exemplo da China, mas a abertura é uma realidade – atesta Alexandrino de Alencar, diretor da Odebrecht, empresa que está construindo o Porto de Mariel.
É nesse processo que se abrem oportunidades para as empresas gaúchas. O presidente da Fiergs, Heitor Müller, usou uma frase que sintetiza o pensamento dos empresários integrantes da comitiva gaúcha em Cuba:
– Este país está se abrindo para o mundo. Quem chegar primeiro, bebe água limpa. Quem chegar tarde, tomará água suja.
Müller recomendou aos empresários que tentem estabelecer contatos e mostrar o que o Rio Grande do Sul produz. Sem perder tempo, Müller convidou a diretora de relações internacionais da Câmara de Comércio de Cuba, Celia Labora, para visitar o Estado, se possível ainda neste ano.
Tarso lembrou que Cuba tem a mesma população e o mesmo PIB do Rio Grande do Sul. O problema é a falta de crédito às exportações. Para superar a barreira, o Badesul criou linha especial de financiamento aos exportadores.
Outra dificuldade para os empreendedores é o sistema de compras cubano, todo centralizado nas mãos do governo. O Grupo de Administração Empresarial (GAE) é uma espécie de guarda-chuva sob o qual estão mais de duas dezenas de estruturas estatais responsáveis por compras que somam mais de US$ 20 bilhões por ano.
Coordenador da missão e presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento, Marcus Coester se convenceu da importância das relações políticas para facilitar os negócios. Foi a aproximação do ex-presidente Lula com o governo cubano que colocou o Brasil entre os principais exportadores para Cuba.
Máquinas rumo às lavouras cubanas
Beneficiado pelo bloqueio econômico liderado pelos Estados Unidos, o Grupo Lavrale aposta alto na venda de tratores, caminhões e implementos agrícolas para Cuba.
Como os fabricantes de origem norte-americana ou de países alinhados com o bloqueio não podem colocar seus produtos no país, Agrale, Lavrale e Stara devem ser as marcas mais vistas nas lavouras cubanas nos próximos anos, por conta de um programa inspirado no Mais Alimentos e financiado pelo BNDES.
– Cuba ainda tem 100 mil juntas de bois – espanta-se Alexandre Pedó, gerente comercial da Lavrale.
Pedó entregou ao Ministério de Comércio Exterior cubano uma carta de intenções da Agrale para vender produtos em Cuba e, no futuro, montar uma fábrica no Distrito Industrial do Porto de Mariel. A empresa Stara também vende para Cuba desde 2006, mas o volume ainda é baixo comparado com outros mercados.
A Fitarelli, de Aratiba, que fabrica de semeadoras manuais a equipamentos sofisticados, também está de olho no mercado cubano e espera conquistar uma fatia das compras do programa Mais Alimentos. A consultora internacional Carla Kühn destaca a capacidade de atender a diferentes tamanhos de produtores como principal diferencial da Fitarelli.
A comitiva gaúcha participou ontem da inauguração da Feira Internacional de Havana. O evento tem por objetivo atrair o capital estrangeiro a investir na Zona Especial de Mariel, sediada no Porto de Mariel. A zona prevê, além de atividade portuária, uma plataforma industrial para a importação, a elaboração de produtos e sua venda no mercado interno e externo.