28/04/2011
Indústrias de máquinas agrícolas instaladas no Estado podem partir para Argentina e China
Indústrias instaladas no Estado podem ir embora em decorrência de barreiras da Argentina e atração chinesa de empreendimentosRedução de produção, demissões nas indústrias gaúchas e ameaça de deslocamento do setor para China e Argentina estão germinando de uma disputa pelo segmento de máquinas agrícolas. Para o Rio Grande do Sul, que concentra 60% do setor nacional, a situação difícil no lado fabril contrasta com a euforia diante da projeção de safra agrícola recorde neste ano.
Foram anunciadas 230 dispensas na unidade de Horizontina da John Deere, perto de Santa Rosa, no Noroeste do Estado – 13% dos 1,8 mil funcionários. Na Agco, informa o Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, ocorreram 83 demissões desde janeiro. Mesmo número havia sido registrado só em dezembro de 2010.
Embora a Agco não se pronuncie sobre os cortes, Alfredo Miguel Neto, diretor de assuntos corporativos para a América do Sul da John Deere, confirma que a redução do mercado nesta época do ano, quando termina a safra e cai a procura por máquinas – foi agravada pelas barreiras da Argentina.
– Estamos analisando a possibilidade de investir lá (na Argentina). Não temos visto ação do governo brasileiro para proteger a indústria nacional. Não sabemos o que esperar do futuro das relações comerciais com a Argentina – lamentou o executivo.
Até agora, a John Deere só mantinha no país uma fábrica de motores, implantada há mais de 50 anos. Conforme o diretor de assuntos corporativos para a América do Sul, a incerteza nas relações com o vizinho fizeram com que a indústria controlasse a produção no último ano. Sob a alegação de proteger a indústria local, os argentinos exigem que o valor importado em certos segmentos seja compensado por exportação equivalente. Como a indústria de máquinas agrícolas brasileira é muito maior – de 80% a 85% do mercado argentino –, a compensação é difícil.
Planalto estaria disposto a endurecer com vizinhos
Há um impacto direto do protecionismo do governo argentino nas fábricas brasileiras, avalia o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier.
– As demissões no setor ocorridas nos últimos meses são reflexo dessa política protecionista argentina. Precisamos da intervenção do governo federal – reclama o empresário.
Interlocutores do governo relatam a impressão de que, caso se confirme a ameaça da Argentina ao setor nacional de máquinas agrícolas, haveria disposição na Esplanada dos Ministérios de endurecer o jogo com os vizinhos. Empresários duvidam da intenção porque o Brasil – apesar dos sucessivos problemas – ainda lucra no comércio com o país, enquanto o Rio Grande do Sul perde.
Somente no primeiro trimestre, o saldo para o Brasil foi positivo em US$ 1 bilhão. O Rio Grande do Sul, no entanto, registrou resultado negativo de quase US$ 484 milhões.