03/02/2010
Indústria recua em Dezembro, mas Bens de Capital e Intermediários têm alta
Mesmo em queda, no mês e no ano, a pesquisa de produção da indústria divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta recuperação dos setores que estão na base da atividade, sinalizando maior crescimento futuro. Enquanto o conjunto da indústria sofreu retração de 0,3% entre novembro e dezembro do ano passado, a produção de bens de capital e insumos para construção civil - que ampliam a capacidade de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) - manteve o crescimento verificado nos últimos meses de 2009.
O resultado negativo de dezembro foi influenciado pelo tombo de quase 5% sofrido pelos fabricantes de bens de consumo duráveis, que repetiram a forte queda já verificada em novembro. A retração, porém, se deu sobre o setor que mais aumentou a produção ao longo do ano passado. Entre janeiro e outubro de 2009, a produção mensal de bens de consumo duráveis (automóveis, celulares e eletrodomésticos) cresceu 92,3%.
De acordo com Isabella Nunes, gerente de análise e estatísticas do IBGE, a queda acumulada pelo setor nos dois últimos meses do ano - de 9,9% - se deu graças ao fim dos fatores que sustentaram o crescimento anterior. "Os incentivos fiscais começaram a ser retirados no fim de outubro e, além disso, houve queda nos eletroeletrônicos, como celulares, porque os maiores mercados importadores, Argentina e Venezuela, passam por problemas", analisa. "Essa perda de fôlego é natural diante da expressiva alta que ocorreu. Não é para aterrorizar", diz.
Segundo os analistas consultados pelo Valor, o crescimento de 2009 deve ser pouco afetado pelos resultados da indústria em dezembro. Os economistas trabalham com um PIB próximo a zero no ano passado. Os indicadores positivos nos setores de base, no entanto, favorecem o crescimento de 2010. Principalmente porque, segundo eles, servem para embasar uma expansão elevada da atividade, que pode beirar, ou mesmo ultrapassar, a marca de 6% neste ano.
A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara, avalia que a retomada do PIB, combinada com o tombo dos investimentos, provocou trajetória declinante na relação investimento/PIB ao longo de 2009. Dos 19% de 2008, a relação decresceu paulatinamente até chegar em 16,9% no terceiro trimestre. "Com o impulso no fim do ano, essa relação deve ter ultrapassado 17%", diz.
Para Fernando Montero, economista-chefe da corretora Convenção, a alta de 1% na produção de bens intermediários entre dezembro e novembro do ano passado é "muito importante", uma vez que "os intermediários servem para indicar o estágio em que o conjunto da indústria está". Segundo calcula o IBGE, os bens intermediários representam cerca de 60% da indústria. No acumulado do ano, a produção do setor sofreu queda de 8,8% e, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV), o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) dos fabricantes de bens intermediários ainda está longe do auge pré-crise: 84% e 87,5%, respectivamente.
Os dois setores destacados por Montero como base para o crescimento da atividade, máquinas e equipamentos (bens de capital) e insumos para construção civil, também acumularam queda no ano passado. Além disso, há margem para aumentar a produção sem resvalar em pressão inflacionária. Enquanto as fábricas de bens de capital fecharam 2009 quase oito pontos percentuais abaixo do auge de 88,4% alcançados em agosto de 2008, os produtores de material de construção bateram em 86,2% no fim do ano - no pré-crise, o setor foi a 91,3%.
Na comparação trimestral, segundo calcula a economista Tatiana Pinheiro, do Santander, a produção de máquinas e equipamentos cresceu 11% nos últimos três meses de 2009 sobre o período entre julho e setembro. Ainda assim, não foi capaz de reverter o mergulho de 27,9% sofrido no quarto trimestre de 2008, que se aprofundou após nova queda, de 5%, verificada nos primeiros três meses de 2009. "Houve forte recuperação a partir de junho, mas há ainda muito espaço para recuperar", afirma.