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26/12/2007
Aumento da safra injeta mais R$ 2,8 bi no Estado
Uma safra para ficar na história O agronegócio gaúcho tomou fôlego em 2007 e comprova nos últimos meses deste ano a força de um ditado bastante conhecido entre os que garantem o alimento na mesa do consumidor: quando o campo vai bem, a cidade vai bem. A alta de preços de commodities aliada à safra recorde de grãos no Estado garantiu a circulação de R$ 9,85 bilhões na economia gaúcha. Segundo a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), R$ 2,82 bilhões adicionais em relação à safra passada vingaram da terra. Um acréscimo de 40,24% no valor bruto da produção dos cinco principais grãos: soja, arroz, milho, trigo e feijão. Os resultados da colheita 2006/2007 encerrada têm efeito multiplicador em praticamente toda a economia e garantem novo impulso para a safra atual que vigora no campo. O fenômeno, explica a economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Maria Conceição Schettert, justifica-se, já que a produção agropecuária está diretamente relacionada a importantes ramos industriais do Estado. Somente nos setores de máquinas e fertilizantes foram reabertas 5,5 mil vagas entre janeiro e novembro deste ano. Depois de marcar a recuperação do setor com um crescimento de 19,9% em 2006, a agropecuária escalou mais 19,2% neste ano, conforme levantamento preliminar da FEE sobre o comportamento da economia gaúcha. Isso significa que as marcas das quebras de safra de 2004 e 2005 estão praticamente apagadas. A influência do campo se expande e determina também o comportamento da indústria de transformação e da prestação de serviços - clientes ou fornecedores do setor primário. Com o dinheiro da recuperação, produtores rurais estão pagando dívidas atrasadas durante os anos de crise, comprando terras, máquinas, defensivos agrícolas e até fazendo aplicações financeiras, o que não acontecia há um bom tempo. A verba da safra vendida movimenta ainda imobiliárias, transportadoras, concessionárias, lojas e comércio em geral. O economista Tarcísio Minetto, consultor técnico da Fecoagro, avalia que o crescimento do valor bruto da produção apresentou o dobro da variação da safra em volume, confirmando a forte expansão, puxada por um cenário internacional favorável, de baixos estoques mundiais de grãos. Entretanto, alerta: - É preciso cautela. Mesmo com a recuperação de preços, as margens em relação aos custos produtivos são estreitas. Apesar da advertência, a projeção é de que o mercado de grãos e a pecuária sigam o ritmo de ascensão em 2008, um ciclo de crescimento das exportações e dos preços, impulsionados em parte por projetos de agroenergia, acredita o presidente da Associação Brasileira do Agribusiness no Estado, Antônio Wunsch: - A maioria está investindo na produção, animada pela perspectiva de cenário de preços para 2008 com previsão de boas condições climáticas e ajuste das dívidas pendentes. Máquinas agrícolas O bom momento garantiu aos fabricantes de máquinas agrícolas resultados positivos neste ano. As vendas devem fechar com crescimento de 45% em 2007 com 37 mil unidades, e muitas indústrias reduziram a ociosidade das linhas de produção para 15%. O bom desempenho marca a recuperação do setor, que amargou com a crise da agricultura entre 2005 e 2006, quando 9 mil empregos desapareceram. Apesar da retomada, o avanço ocorre sobre uma base muito frágil pelos dois anos seguidos de crise, quando o setor chegou a registrar perdas de 70% no volume de vendas, lembra o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado, Cláudio Bier: - Há filas de espera até porque na época da crise todo mundo botou o pé no freio. Se em 2008 tivermos uma safra semelhante e manutenção de preços, poderemos voltar aos patamares de 2004. Fertilizantes Mais renda no campo significa também incremento no nível de tecnologia investido na lavoura, especialmente na dos mais capitalizados: sojicultores e produtores de milho. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Adubo no Estado, Torvaldo Marzolla Filho, o vigoroso ritmo das vendas de insumos até agora deve garantir crescimento de 16% em relação a igual período de 2006. Ainda assim, o consumo de 2,7 milhões de toneladas no Estado não chegou ao resultado de 2004, quando foram entregues aos produtores gaúchos 2,9 milhões de toneladas. Mas Marzolla está otimista que isso será possível em 2008 diante da previsão de cenários ainda mais favorável. - O Estado deve bater recorde de demanda por fertilizantes, produtividade e lucratividade. Os estoques de alimentos nunca estiveram tão baixos como agora no mundo - prevê o dirigente. O PIB do agronegócio no país O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deve crescer 5,52% neste ano e alcançar R$ 569,9 bilhões, de acordo com projeção feita pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo. Os dados confirmam que o ano de 2007 foi positivo para o agronegócio, apesar das queixas dos produtores contra a valorização cambial, o aumento dos custos de produção e as deficiências em infra-estrutura. - Os grandes números não conseguem captar algumas dificuldades - disse superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta. Mesmo assim, reforça o dirigente, o agronegócio voltou a contribuir de modo significativo para o crescimento do PIB, o que não aconteceu nos últimos dois anos. Dívidas rurais Apesar da projeção de cenário favorável para 2008, o agronegócio acaba este ano com um problema por resolver que pesa bastante no desempenho do caixa das propriedades rurais: o endividamento. O governo federal já adiou cinco vezes a apresentação da contraproposta à subcomissão que trata do assunto em Brasília, a última delas na semana passada, quando o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou que a solução ficará somente para o final de março do próximo ano. O deputado Luis Carlos Heinze (PP) dá uma dimensão do rombo. A maior parte dos R$ 71 bilhões da dívida, 25% concentrados no Estado, pertence a produtores de arroz, soja, trigo, cacau, café e algodão. Juntas essas culturas garantiram uma renda de R$ 66 bilhões na safra 2006/2007, o que seria insuficiente para quitar o saldo devedor no Tesouro Nacional e em instituições bancárias.